segunda-feira, 18 de maio de 2020

Museu Municipal de Espinho on-line

O convite para visitar o Museu Municipal de Espinho é um apelo à descoberta da nossa história e cultura local. Nesse sentido, o site que hoje tornamos público é uma importante ferramenta que colocamos à disposição do visitante para acompanhar todo o nosso trabalho em prol da preservação da nossa memória e identidade coletiva. Assim, o Museu Municipal de Espinho entende a função museológica como um processo de comunicação ativo, que se quer à disposição da sociedade, e que explica e torna visível a sua missão, perfil e vocação, bem como as suas coleções patrimoniais e artísticas. Este novo site torna-se assim um excelente meio de interagir neste mundo cada vez mais global, permitindo uma abordagem ampla e direcionada de apresentar a nossa oferta cultural. Estamos certos que esta nova forma de comunicar com o público em geral, estudantes, professores e investigadores, em particular, é uma boa oportunidade para otimizar a troca de experiências, melhorar a informação e aprofundar conhecimentos. A partir de hoje o novo site do Museu Municipal de Espinho será a plataforma privilegiada da nossa comunicação, deixando este blogue de estar em atualização.

Visite-nos em:  https://museumunicipal.espinho.pt/pt/



Armando Bouçon
Diretor do Museu Municipal de Espinho

quarta-feira, 22 de abril de 2020

EDUCA ON PROGRAMA DE APOIO AO ENSINO À DISTÂNCIA


O Município de Espinho, através da Divisão de Educação e Juventude e da Divisão de Cultura e Museologia com o apoio dos Agrupamentos de Escolas do concelho, criou um programa de apoio ao ensino à distância, através da recolha de material informático destinado a alunos que não possuem este tipo de equipamento

Com o arranque do 3.º período, o ensino à distância tornou-se numa modalidade única nestes tempos difíceis. Garantir o acesso à educação a todos os alunos dos vários graus de ensino, é um desígnio nacional, ao qual o Município de Espinho se juntou para minimizar a dificuldade que algumas famílias apresentam garantindo assim igualdade de oportunidades entre todos. Em estreita colaboração com os Agrupamentos de Escolas do concelho implementou o um programa que permitirá criar uma bolsa de equipamentos informáticos para serem distribuídos pelos alunos de todos os graus de ensino escolar do concelho de Espinho. 

Para Vicente Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal de Espinho com o pelouro da educação, "Uma das grandes preocupações desta autarquia é a Educação, o combate ao insucesso escolar e a criação de igualdade de oportunidades.  
Este projeto visa também apoiar as escolas dotando-as dos equipamentos informáticos paradarem as condições aos alunos e docentes para o ensino à distância. Nos últimos anos houve um grande desinvestimento por parte do Estado em equipamentos informáticos. Muitos dos computadores existentes estão obsoletos ou avariados. A Educação tem de ser uma causa nacional, em particular para assegurar uma escola pública de qualidade, que esteja à altura do momento critico que vivemos. Estamos convictos que a sociedade civil e empresas se juntarão a esta causa de solidariedade social e de partilha.” 

São abrangidos pelo projeto "Educa ON” todos os computadores, impressoras, tablets, telemóveis com acesso à internet e seus acessórios.  

Os equipamentos poderão ser entregues nas instalações da Escola EB 2/3 Sá Couto, sita na Rua 34, n.º 934 a partir do próximo dia 23 de abril, de segunda-feira a sexta-feira, das 09:00 às 13:00 horas. 

Consulte o regulamento AQUI

terça-feira, 21 de abril de 2020

EDUCA ON PROGRAMA DE APOIO AO ENSINO À DISTÂNCIA - VOLUNTÁRIOS

Após a entrega do material, uma equipa de voluntários, sob orientação técnica por parte dos agrupamentos, irá tratar de otimizar o material informático, preparando o mesmo para a distribuição pelos agregados necessitados. A colaboração entre todos é da máxima importância nesta iniciativa.
Se possui competências informáticas, quer seja a nível de hardware ou de software, e pode dispensar algum do seu tempo a ajudar, registe a sua disponibilidade AQUI.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Vladimiro Brandão - (1936 - 2020)

É com pesar que o Museu Municipal de Espinho se associa ao luto pelo falecimento de Vlademiro de Castro Brandão. Em 2017, e em colaboração com a Associação Académica de Espinho, o Museu produziu e organizou uma exposição documental, que retrata, em 23 painéis, a vida e a obra de Vlademiro Brandão. Neste contexto, e em homenagem a uma das mais importantes referências do desporto local, achamos por bem compartilhar com todos vós, essa mesma exposição, que dá uma visão, ainda que redutora, da importância e dos feitos alcançados por esse grande desportista.





terça-feira, 31 de março de 2020

Alegoria à Industria e ao Comércio




Muitos ainda se lembrarão do painel em gesso, (a simular bronze) que encimava as escadas que davam acesso aos escritórios da Fábrica Brandão, Gomes & C.ª. A foto que apresentamos acima, ajuda a recordar esse mesmo painel que representava uma alegoria à Indústria e ao Comércio, as actividades levadas a cabo pela sociedade Brandão, Gomes & C.ª.
Recorrendo à Alegoria, muito em voga nas artes decorativas desde o final do séc. XVIII, não esquecer as estátuas alegóricas que coroam as platibandas e cimafrontes dos edifícios azulejados datados desse período, que, aliás, Espinho é “detentor” de numerosos exemplares, este painel em gesso de alto relevo, representa a Indústria, uma figura feminina de peito desnudado que segura um martelo na mão direita e aparece sentada numa bigorna com o braço esquerdo apoiado numa roda dentada, utensílios esses, que, em termos simbólicos, remetem para a atividade industrial. Ao fundo, e em 2º plano, a imagem da fachada da Fábrica Brandão, Gomes & C.ª reforça a atividade industrial, revelando de forma inequívoca a indústria que se pretende representar.
No lado direito, a alegoria que visa representar o comércio, recorre à representação do deus Mercúrio, tradicionalmente associado ao comércio, e que, neste caso, é representado com um capacete alado e um caduceu na mão esquerda. Junto às pernas, as caixas de expedição dos produtos Brandão, Gomes.  Em 2º Plano, uma embarcação que remete para o escoamento dessas mesmas caixas de expedição, que, detendo no seu interior os preciosos produtos produzidos pela indústria Brandão, Gomes & Cª., por intermédio dessas mesmas embarcações, são comercializados nos 4 cantos do Mundo. O capacete alado de Mercúrio visa simbolizar agilidade, e o caduceu, neste caso formado por um bastão e duas serpentes, simboliza respectivamente: poder e sabedoria. Ao centro do painel, completando o conjunto, o Logótipo da Fábrica Brandão, Gomes & C.ª.

Tiago Castro

Bibliografia:
Castro, Tiago. A Cerâmica Ornamental na Arquitectura da Cidade de Espinho: O Azulejo e a Estatuária. Tese de Mestrado em Museologia. Curso de Estudos Integrados em Museologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

quarta-feira, 25 de março de 2020

As origens da pesca com Arte-Xávega


A pesca de cerco e alar para terra em litorais arenosos e a pouca distância da praia é das mais básicas, senão a mais básica forma de pesca no mar. A sua origem remonta às civilizações Pré-Clássica e Clássica do Mar Mediterrâneo, que utilizavam barcos pequenos e redes de alagem manual. Mais tarde, e durante a ocupação muçulmana da Península Ibérica, esse tipo de rede utilizada na pesca marítima costeira aparece com a designação de “Xábaka” e a sua expansão pela Andaluzia espanhola e Algarve português originou novas expressões como “Jábega”, “Xávega” ou “Enxávega”.

A pesca com xávega em Portugal é originária do Algarve, e tanto a rede como a embarcação, muito plana e muito peculiar, devem derivar da “Xábaka” islâmica e da “Jábega” andaluza. O Barco-da-Xávega algarvio é muito parecido com a embarcação de Málaga, também ela muito plana e sem forma de meia-lua.

No século XVIII na região Norte e Centro de Portugal operou-se uma transformação nas formas de pescar, com a introdução de um novo tipo de pesca, diferente das pequenas artes (redes) designadas por “Chinchorros” que aí poderão ter existido, utilizando uma grande rede de “cerco e alar para terra” e com a formação de companhas munidas de barcos muito curvos, em forma de meia-lua, designados por “Barcos-do-Mar” (de Espinho até Mira) ou “Barcos-da-Arte” (da Figueira da Foz até à Vieira de Leiria), totalmente diferentes dos barcos que existiam no Algarve e na Andaluzia, que não utilizam portos e são capazes de varar a rebentação. Essa transformação no tipo de pesca nos litorais da Ria de Aveiro teve uma grande influência catalã a partir da Galiza e foi feita progressivamente de Norte para Sul. Ao novo tipo de pesca e à rede utilizada os pescadores deram o nome de “Arte”. Assim surgiram as grandes companhas da “Arte” e com elas o aparecimento de novas povoações no litoral norte e centro de Portugal como foi o caso de Espinho e de um conjunto de praias até Vieira de Leiria, estendendo-se a “Arte” à Costa da Caparica, Costa da Galé, Santo André e Sines.

As diferenças entre os dois tipos de pesca não se referem somente ao tipo de embarcação e às dimensões dos aparelhos de pesca (cabos e rede), mas também à forma como a alagem era efetuada. Nos mares do Algarve a alagem foi sempre feita de forma manual, enquanto na “Arte” do norte e centro de Portugal, e devido às grandes dimensões dos aparelhos de pesca, foram introduzidas as juntas de bois como auxiliares de tração. Por outro lado, a “Xávega” algarvia tanto podia ser uma pesca de cerco e alar para terra, como também uma pesca de cerco e alar para a embarcação principal (Barco-da-Xávega), e em certas situações podendo ser ainda auxiliada por outras embarcações como o “Calão” e a “Enviada”.

De acordo com o Capitão-de Mar-e-Guerra António Baldaque da Silva na sua obra “O Estado Atual das Pescas em Portugal” (1891) as comunidades piscatórias que praticavam a pesca com a “Arte” de arrasto entre 1888 e 1891 estavam localizadas em Lavadores, Granja, Espinho, Paramos, Esmoriz, Maceda, Furadouro, Torreira, São Jacinto, Costa Nova, Areão, Palheiros de Mira, Tocha, Costinha, Quiaios, Praia de Buarcos, Cova, Costa de Lavos, Leirosa, Pedrogão e Vieira de Leiria, até à Nazaré. A Sul, Costa da Caparica, Costa da Galé, Santo André e Sines. No Algarve, as comunidades de Salema, Lagos, Portimão, Armação de Pêra, Albufeira, Faro, Fuzeta e com mais intensidade, Tavira e Monte Gordo, dedicavam-se à pesca com “Xávega”.

No seguimento do Inquérito Industrial de 1890 da “Comissão Permanente de Pescarias” e com a posterior publicação em 1903 do “Regulamento Geral da Pesca da Sardinha nas Costas de Portugal” surgiu a nova designação de “Arte-Xávega”, que através da utilização do hífen unificou a “Arte” do Norte e Centro e da “Xávega” do Algarve, numa única realidade oficial e legal e com uma malhagem mínima de 10 mm. Tratando-se de dois tipos de pesca parecidos entre si, designadamente por serem ambos de “cerco e alar para terra” e muito diferentes de outros tipos de pesca praticados em Portugal, não foi difícil a sistematização jurídica e fiscal e a unificação das duas realidades.

Os séculos XIX e XX foram, sem dúvida, os mais determinantes para o desenvolvimento e afirmação deste tipo de pesca e da “Xávega” do Algarve. Se a “Arte” de Espinho a Vieira de Leiria e na Costa da Caparica (deixando de utilizar os “Barcos-do-Mar”) manteve-se bem viva, o mesmo não se pode dizer da “Xávega” algarvia que acabou por se extinguir, acabando com a destruição nos anos 70 e 80 do século XX dos últimos “Barcos-da-Xávega” existentes.

A fixação permanente dos núcleos piscatórios

          Foi a partir da segunda metade do século XVIII e, sobretudo, a partir de 1776 com a chegada ao Furadouro de um empresário chamado Jean Pierre Mijaule, natural de Languedoc, região do sul de França, que se deu a fixação permanente de alguns núcleos piscatórios, incluindo o de Espinho e a expansão e desenvolvimento da pesca de cerco e alar para terra, com redes de grandes dimensões e com barcos em forma de meia-lua. Assim, as “Artes Grandes” começaram no Furadouro com a instalação por Mijaule de um armazém ou fábrica, que ficou conhecida por “fábrica do estrangeiro”, a qual se dedicava à recolha e conserva da sardinha pelo processo de salga ou salmoura. Na fábrica trabalhavam técnicos catalães especializados nas tecnologias das redes, da salga do peixe, e da nova organização das companhas, com pessoal de pesca português. Os empresários de pesca catalães na primeira metade do século XVIII já estavam instalados na Galiza e operavam a partir daí e posteriormente introduziram em Portugal as “Artes” ou as grandes redes de pesca, que apresentavam diferenças significativas em relação às pequenas redes chamadas de “Chinchorros” utilizadas a partir do século XVII: redes de maior dimensão lançadas a distâncias muito superiores. A iniciativa de Mijaule mostrou-se extremamente rentável, já que os excedentes destinados à agricultura eram comprados a preços mais baixos e conservados em salmoura, esperando novas oportunidades de comercialização, que aconteciam quando as condições marítimas não permitiam a pesca. Por outro lado, o “segredo do francês” refletiu-se nos processos de pesca, no sentido em que permitia a recolha de um volume muito maior de peixe.

O povoamento de Espinho teve a sua origem num vasto areal denominado “Espinho-Mar”, muito perto de “Espinho-Terra”, pequena aldeia que se situava a nordeste dessa praia e constituía em meados do século XVIII o Lugar de Espinho, freguesia de S. Félix da Marinha. Ainda que já se pescasse neste ponto da Costa, só com a chegada das gentes de Ovar é que foi conferida à pesca o carácter profissional da atividade. Devido às condições naturais da praia, a utilização da Arte e dos Barcos-do-Mar já se faziam sentir. A praia possuía um vasto areal com formação dunal, abundância de peixe, e a sua proximidade com a Ria de Aveiro atraiu os primeiros pescadores oriundos do Furadouro. É de salientar que o povoamento dos litorais e estuários, principalmente do Norte e Centro de Portugal, ficou a dever-se ao dinamismo das populações piscatórias e agro-marítimas dos litorais da Ria de Aveiro.

Os pescadores que, do sul, vieram e aqui se instalaram, estabeleceram a praia de pesca num local que estava situado em frente à atual Piscina Solário Atlântico, erguendo os seus palheiros nos terrenos do Rio Largo, fronteiros ao primitivo Lugar de Espinho. A atividade piscatória teve, de início, carácter sazonal e estava confinada aos meses de Maio a Novembro, regressando os pescadores ao Furadouro no início do Inverno. A primitiva colónia não construiu na praia de Espinho abarracamentos ou palheiros, fazendo uso das suas embarcações, voltadas de fundo para o ar, de abrigos. Só mais tarde é que começaram a erguer barracas de madeira, conhecidas em todo o litoral como “palheiros”, que ficavam desertos quando os pescadores regressavam às terras de origem. Até 1855 a Costa de Espinho pertenceu à freguesia de Ovar, passando por Decreto-Lei de 24 de Outubro desse ano a fazer parte da freguesia de Anta, concelho da Feira, onde se manteve até 23 de Maio de 1889, data da criação da Paróquia de Espinho e posteriormente da freguesia civil.

Em 1908, o escritor Miguel de Unamuno, na sua obra “Por terras de Portugal e da Espanha”, caraterizou da seguinte forma a localização de “Espinho-Mar”: “O sol a morrer nas águas eternas e os peixes na areia, os homens a mercar a sua colheita marinha, o mar a cantar o seu perpétuo fado, os bois a ruminar lentamente sob as cangas ornamentadas e, ao longe, as copas escuras dos pinheiros começando a diluir-se no céu da tarde extrema. E junto aos pinheiros, na costa, uns quantos moinhos de vento, sobreviventes também de uma espécie industrial que principia a ser fóssil, a mover lenta e tristemente os seus quatro braços de pano.” No século XIX e inícios do século XX, junto à costa e a norte da atual Piscina Solário Atlântico, existiam vários moinhos de vento que se estendiam pelas praias da Granja e Aguda e, também, junto à Ribeira do Mocho onde hoje se situa o Parque de Campismo de Espinho.
  
A pesca com Arte-Xávega

A Arte-Xávega é um tipo de pesca tradicional que consiste na utilização de uma rede de cerco envolvente que é lançada ao mar e depois é puxada para terra. A “Arte”, como é designado o conjunto constituído por cordas, alares e saco, é largada de bordo de uma embarcação que deixa um dos cabos de alagem na praia e que, após o lançamento da rede, regressa à praia trazendo o outro cabo de alagem. Depois de ambos os cabos estarem na praia dá-se início a alagem, nos primórdios feita à mão, posteriormente com tração animal e actualmente por tração mecânica, com recurso a tratores a motor.

Um dia de pesca é composto por um número variável de lanços, que dependem do estado do mar, da capacidade de trabalho da companha, da quantidade e qualidade do peixe capturado nos lanços anteriores. A decisão da realização de um número de lanços por jornada é da competência do Arrais de mar.

Cada lanço inicia-se com a entrada do barco na água, tarefa efetuada com a ajuda de um trator que reboca a embarcação e de toda a companha que empurra manualmente o barco até ele começar a flutuar. A rebentação é vencida à força de remos e o motor só é acionado quando existir profundidade suficiente. A Arte é largada de bordo do Barco de Mar, ficando um dos cabos de alagem na praia, cuja ponta é o extremo de uma das mangas, o chamado “reçoeiro”. Após o lançamento da rede no “largadouro”, a embarcação regressa à praia trazendo o outro cabo de alagem, que por sua vez traz consigo a arte “inteira”, com o “saco”, uma das “mangas”, e a ponta de um dos cabos, a designada “mão-de-barca”, que será lançada no mar em semicírculo. Só depois de ambos os cabos estarem de novo na praia é que se dá início à “alagem”.

O escritor espanhol Miguel de Unamuno, que passou por Espinho nas duas primeiras décadas do século XX, escreveu a obra “Por Terras de Portugal e da Espanha” na qual descreve magistralmente o que era a pesca em Espinho no limiar do século XX, texto de que vamos fazendo referência no decurso deste caderno.

“Deixam presa na areia a ponta de uma das duas cordas da rede. Em cada barca sobem uns trinta tripulantes, meia dúzia para estender a rede e demais tarefas, e dez ou doze para cada um dos grandes remos. Três horas depois de ter saído, voltam trazendo a ponta da outra corda. E é um espectáculo emocionante, e às vezes solene, ver as barcas de proa levantada esperar, com o pescoço erguido, as ondas que lhes sejam favoráveis e investir depois para a areia entre cascatas de espuma e a gritaria dos que as esperam.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)
  
“No barco o saco vai ao bico da ré, alongando-se sobre a corda e as mangas vão no interior do barco, e no início da rede colocavam-se as calas. As redes mediam entre 240 a 350 metros e o saco chegava a ultrapassar os 50 metros.”

A rede opera quase à superfície do mar e tem os “panos” das suas duas “mangas” laterais posicionados verticalmente devido ao efeito conjugado da “tralha das pandas” e da “tralha dos chumbos”, os designados “pandulhos”. A malha dos “panos” das “mangas” vai estreitando de forma progressiva. Dos dois lados do aparelho, as duas mangas vão aumentando em altura, enquanto a malhagem vai estreitando. À medida que a alagem é efetuada as duas mangas aproximam-se uma da outra; as pontas aproximam-se do “reçoeiro” e da “mão-de-barca”. Assim, ao diminuir a distância na praia entre os cabos de alagem, as mangas vão se fechando e o peixe vai sendo encaminhado para o saco. Já no saco, o peixe capturado não pode sair mais e assim chega à praia. O saco é reforçado a meio por uma rede de malha mais grossa, chamada funda, para evitar a sua rutura quando a pesca é mais abundante.

“As mangas, que constituem as partes laterais da rede, tinham cinco peças designadas de alcanena, caçarete, regalo, mezena e claro. Terminavam no calão onde eram fixadas as cordas.”

Em terra o saco, de rede de malha mais fina, é arrastado pelo trator e aberto, procedendo-se à escolha e separação do peixe, já não em “lotas” e “macolas” na areia da praia e transportado em rapichéis ou redanhos (sacos grandes de rede que os pescadores dependuravam num bordão de madeira e o transportavam até ao local de venda, podendo conter duas ou três macolas) como faziam as antigas companhas, mas contado e colocado em caixas, que depois são transportadas pelos tratores para fora da praia, fazendo-se a vendagem na zona próxima dos apoios de pesca.

“Metem-se alguns homens nessa massa palpitante, mergulhando nela os pés bronzeados, e às pazadas, separando aqui e além alguns peixes, vão enchendo os rapichéis ou redanhos, espécie de cestos de rede em que dois homens para cada um deles levam a colheita para a estender na areia, onde as mulheres fazem a escolha.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)

“Os antigos sacos eram formados por painéis como oito muros separados entre si e conhecidos por cuada, meia cuada, alegras, bastos, meios-bastos, cuada rasa, bocada rara e folhas de boca. Numa das suas extremidades prendia-se o calimbo, flutuador que evitava que o saco descesse em demasia, servindo também para detetar a posição do saco.”

Na atualidade a malha da rede tem 7 muros de 20, 22, 24, 26, 28, 30 e 32 mm e o saco de 50 metros começa com malha de 24 mm e termina em 10 mm. No “cú” do saco utiliza-se uma malha de 20 mm. Os acessórios que compõem a rede são os seguintes: chumbos; cortiça; cabos; boias de sinalização (balizas).
  
Depois de o saco ficar vazio, é colocado junto à popa da embarcação e o seu fundo é fechado. Quando a rede e as cordas estiverem devidamente arrumadas, o Barco está novamente pronto para ir ao mar, iniciando-se um novo lanço. Os lanços são feitos a uma distância da praia que varia em função das ordens dos arrais, variando entre os 3000 e os 500 metros. Pela Lei as artes podem ser lançadas até 3000 metros, distância que em Espinho não é utilizada, andando a média dos lanços entre os 1000 e os 2000 metros. A prática comum a todas as companhas é de fazerem o cerco a maiores distâncias durante ao dia (desde a alta madrugada até ao início da tarde) e a pequenas distâncias à medida que o entardecer e a noite se aproximam.

“Quando as juntas de bois iniciavam o trabalho da alagem das redes emergia a figura do calador, que harmoniosamente procedia ao enrolar das cordas colocando-a em rolos. As cordas são fabricadas de matéria vegetal fibrosa do sisal e transformadas em grosso cabo. Cada rolo de corda tem 60 metros de comprimento, podendo ser lançados 35 rolos de forma a consumar 2500 a 3000 metros de distância.”
  
“Puxam da praia com junta de bois. Isto de tirar as redes com juntas de bois é o que dá mais carácter à pesca em Espinho, assemelhando-se a um trabalho agrícola e concedendo um pretexto à imaginação para comparar com o trabalho dos campos nesta região em que, como digo, o mar parece que se ruraliza.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)

Também Raul Brandão na sua obra “Os Pescadores”, editada pela primeira vez em 1923, fala da prática da Arte-Xávega na Praia de Paramos e do viver da comunidade piscatória: “Aqui o pescador vive em barracas de madeira que têm o aspecto de povoações lacustres. Em certos dias iça-se o camaroeiro e a este sinal, esperado no interior das terras, começam a aparecer pelos caminhos empapados, dirigindo-se para o mar, as pesadas juntas de bois levadas à soga pelas moças. O lavrador associa-se ao homem do mar. Nesses dias larga o arado e toma parte na companha, ajudando a alar a grande rede que se usa por estas bandas e que as bateiras lançam à água.”
  
Para além do conjunto de procedimentos técnicos relacionados com a prática da Arte e dos meios indispensáveis para a sua concretização (embarcações, aparelhos de pesca, máquinas e outros apetrechos), o pescador de Espinho é um homem experiente e de saber que conhece bem o mar e os seus recursos. A costa de Espinho é um património natural rico em várias espécies que sazonalmente migram para esta zona, de águas frias, e rica em plâncton. Falamos de uma zona costeira adjacente à Ria de Aveiro, tipicamente considerada zona de recrutamento de sardinha e de outras espécies pelágicas como o carapau, a cavala (que em conjunto com a sardinha são as espécies dominantes) e o biqueirão, registando-se também a presença de faneca, sarda e boga, entre outros peixes.

Os conhecimentos empíricos e os saberes dos pescadores transmitidos de geração em geração, permitem aos homens do mar interpretar as condições meteorológicas mais favoráveis à pesca, os ventos e as ondas (detetar a existência de fundos de areia, fundões ou cabeços, essencial para uma alagem sem problemas de maior).

O “Barco-do-Mar”

A arqueologia naval considera que o barco do mar, as bateiras de pesca, e os barcos moliceiros da Ria de Aveiro, pertencem todos à mesma família de embarcações: a das canoas de tábuas, em forma de meia-lua.
A tese mesopotâmica, defendida por Adolfo Schulten, a partir das pinturas de Hagia Txiada e do modelo de prata do túmulo de A-bargit do museu de Ur, atual Iraque, é a que tem mais consistência. Nesse sentido, o barco de Ur é aquele que mais se aproxima dos modelos atuais do barco-do-mar e da bateira de mar.
Na sua construção nota-se a influência direta do tipo de mar (Atlântico), da rebentação e da violência das ondas, da praia arenosa, da agilidade das manobras e sua tripulação, das artes e das espécies a capturar.
A partir dos anos 80 do século XX, com a motorização dos barcos, do abandono do arrasto por juntas de bois e com o uso da tração mecânica, foram introduzidas novas modificações, as quais permitiram aumentar o número de lanços diários.
  
“Nesta parte da costa portuguesa, junto ao lavrador vive o pescador. Aquele semeia o linho e faz as cordas das redes com que este pesca, fornece-lhe madeira para os seus barcos. Aqui, nas areias desta praia de Espinho, vêem-se a descansar, de proa voltada para o mar, os barcos dos pescadores. Recordam-me o que deveriam ser as naves que os aqueus arribaram a Tróia, as naves homéricas. São, de facto, como exemplares sobreviventes de uma espécie já extinta em outras partes. Têm, com efeito, algo primitivo estas barcas sem quilha, fundo plano como o das chalandras, com a proa em ponta como a das gôndolas, e nela uma cruz a rematar.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)

Segundo Manuel Fidalgo na sua obra “Barco da Xávega – Tecnologia da sua Construção”, 2000, a motorização de um barco-do-mar exigiu um motor diferente dos motores usuais e um rombo à ré para o encaixar sem o perigo de a água entrar. Os barcos do mar de 10 metros têm praticamente tudo o que os antigos barcos do mar de 16,45 m possuíam, com a exceção das alterações seguintes:
  
Primitivamente
Atualmente
Comprimento           16,45 metros
Boca                             4,18 metros
Pontal                          1,28 metros
Cavernas                         27
Remos (2)                       11 metros
Comprimento               10 metros
Boca                               2,9 metros
Pontal                               1 metro
Cavernas                          16
Remos (2)                        8,4 metros

A ré é a parte do barco onde é exercido um maior esforço, razão pela qual vários construtores substituíram a roda da ré de pinho por uma roda de carvalho. O motor a gasolina ou gasóleo, é encaixado entre a 2.ª caverna e o forcado da ré. Os remos no barco a motor assentam em labaças, que dão mais liberdade de ação para o manejamento da rede, a qual não ultrapassa os 600 metros (mangas de 300 metros e saco com aproximadamente 50 metros). No passado, de tripulações de 34 homens no barco de dois remos passou-se para 8 a 12 homens. Os barcos de quatro remos e de 44 a 56 tripulantes desapareceram e nunca tiveram grande expressão na “Arte” no concelho de Espinho, bem como os “postos fixos a bordo com remadores sentados e camboeiros (de pé) no remo “maião” e no remo de proa. Na atualidade vão três homens em cada remo, dois como remadores e um como “camboeiro”, e dois ou mais homens para lançar a rede, um junto ao motor e um outro junto à proa. Nos inícios do século XX em cada remo trabalhavam dez homens, quatro sentados nos trastes ou bancos (os chamados metedores), quatro homens de pé e dois aos cambões (pequeno cabo atado ao punho do remo). O Caneiro, era o remador que ia agarrado ao cano (punho do remo), e o Espiador o remador que ia de pé. O arrais de mar, figura que dirige os trabalhos no mar, inclusive o lançamento da rede, ia colocado no “paneiro pequeno”.
  
COMPOSIÇÃO DO BARCO DO MAR
PROA
PROA | RÉ
COSTADO
REMOS
Cavernil
Bico da Ré
Abraçadeiras
Chumaceiras
Cano
Coberta
Calço p/rede
Costado
Escalamões
Gurfiões
Desc. da forcada
Cinto
Remo Proa
Cágado
Arco da Proa
Armela
Ferros da Boca
Remo Ré
Tarma
Paneiro

Dragas

Arreatamento
Forramentos



Tostas

  
A cadeia operatória de construção do Barco-do-Mar

A especificidade da Arte-Xávega enquanto tipo de pesca artesanal resulta da lide do barco e da rede como elementos materiais. O barco é elaborado pelos poucos mestres carpinteiros que ainda se dedicam a estas construções, concentrados em Mira e Pardilhó, duas terras situadas no Distrito de Aveiro.

A obra “Barco Xávega – Tecnologia da sua construção” de Manuel Fidalgo descreve com pormenor todas as fases de construção do Barco-do-Mar, uma embarcação que não tem leme, e que é orientada por remos, e está preparado para fazer até 5 viagens por dia. É utilizado por uma companha constituída por 8 a 12 homens. Estes barcos são utilizados essencialmente no verão e outono, indo ao mar raramente durante os meses de inverno.

A construção deste barco é uma cadeia operatória constituída por 18 fases. Contudo, esta cadeia foi revista com a motorização do barco. O motor necessário para este barco era diferente dos utilizados até então, foi necessário um rombo até à ré para o encaixar sem existir risco da água entrar. Este motor é a gasolina ou gasóleo e debita de 40 a 60 HP. Os remos do barco são assentes em labaças, colocados perto da proa de modo a deixar mais espaço livre para manear a rede.

Os estaleiros onde estes barcos são construídos mudaram-se de junto à praia para locais onde existisse a matéria-prima necessária para a construção dos barcos, isto é, a madeira. Cada barco demora cerca de um mês a ser construído sem a pintura.

O barco é feito de pinheiro bravo ou manso e alguns construtores utilizam ainda o carvalho para a roda da ré. O pinheiro bravo é fundamental para as tábuas de fora e do fundo do barco. As árvores de onde esta madeira é retirada devem ter, pelo menos 3 mil quilos, e devem possibilitar tirar tábuas de, pelo menos, 10 metros. São também feitas de pinheiro bravo a roda da proa, o forcado da proa, o forcado da ré e os bancos.

De pinheiro manso são feitas as 16 cavernas e a roda da popa para os que não utilizam o carvalho. O pinheiro manso é escolhido quanto mais tortas forem as suas raízes e o tronco, este deve ter, pelo menos, 2 mil quilos. Do tronco do pinheiro são feitas as dragas, os bordos, as falcas, entre outras peças mais pequenas.

Num barco de 10 metros são necessárias 7 estacas de eucalipto para assentar a tábua da quilha e dos fundos. Estas têm comprimentos diferentes e são cortadas com base no “pau de pontos”, instrumento primordial na sua construção. São adicionadas ainda pequenas ripas ou tábuas para auxiliar esta construção. O comprimento do barco é que vai determinar a sua largura e a quantidade de estacas necessárias, como as suas dimensões e a distância entre estas e o tesado do barco. As tábuas da quilha e do fundo devem ser resistentes e ter a espessura necessária para suportarem dez anos de desgaste e corrosão. A utilização da chapa metálica para cobrir o fundo do barco não tem sido uma boa opção porque a areia que se acumula entre o metal e a madeira diminui a duração de vida do casco.

«Um dos instrumentos mais importantes na construção de um barco Xávega é o “pau de pontos”, um aparelho, que substitui o metro ou a fita métrica, sendo que todos os componentes do barco têm obrigatoriamente de obedecer ao pau de pontos. Usualmente, um pau de pontos consiste numa vara de metro e meio, de quatro faces iguais, aplainada, com cortes, ou ranhuras quase imperceptíveis em todos os lados e a alturas diferentes de leitura só acessível aos carpinteiros navais da mesma arte. Associados, às ranhuras, há traços a lápis, com (ou sem) números, que também entram na medição das peças a construir.»
  
As tábuas da quilha e de aresta devem ter 10 metros de comprimento e 5 ou mais centímetros de espessura. Nas tábuas é exercida uma forte tensão de modo a estas atingirem a curvatura necessária, isto é feito com base no macaco, grampos e gatas. Aqui é necessário um elevado esforço físico. As dimensões das três cavernas da proa não são iguais às três da ré e as do meio são todas diferentes. Para a realização das cavernas é necessário limpar o pinheiro e as raízes, desmancha-las com a motosserra, fazer a medição com o pau de pontos e cortar e afarizar até esta estar concluída. Quando as 16 cavernas estiverem concluídas, a roda da proa e a da ré, os forcados e os braços também já devem estar operacionais para de seguida o Mestre dar início à construção, pregando as cavernas da proa e da ré à tábua da quilha e às tábuas do fundo, e posteriormente as cavernas do meio, os braços e a roda da quilha e da ré.

Após essa operação vão ser pregadas às cavernas as primeiras tábuas do lado, as tábuas de verdegar. Depois o foliamento que é uma tábua de bico que se prega às cavernas e ao bico da proa e à roda da ré.

No final deste processo é necessário revestir o barco com tábua com as medidas dadas pelo pau de pontos. Primeiramente são pregadas as tábuas dos bordos, de seguida a capa da proa, as tábuas de fechar e as entre-dois.

É necessário dragar o barco, isto é, pregar as tábuas de dentro, assentar os bancos e a tábua entre-dois do fundo. A draga é colocada acima das tábuas dos lados e dos foliamentos e abaixo das tábuas de forro. Para uma embarcação de 10 metros a draga deve ter 7,5 metros por 25 centímetros de largura e 3 centímetros de espessura. O banco de remar possui duas partes, o banco e o grosso.

De seguida são presos os forros, isto é, duas tábuas que se prendem às cavernas acima das dragas. Estes têm 8 metros de comprimento, 16 centímetros de largura e 2,5 de espessura. É aqui que são presas as labaças ou remadouros de metal onde irão depois assentar os remos.

O passo seguinte é pregar as labaças e a capa da proa que serve para tapar os últimos buracos desta. Ao assentamento das últimas tábuas dá-se o nome de fechar o barco. Este fica pronto para a calafetagem e para pintura. Em seguida é aberto o buraco onde irá encaixar o motor e é feita a calafetagem. As zonas calafetadas são enchidas por breu. As ferragens utilizadas no barco são os pregos e as cavilhas de ferro e madeira. Por fim, o barco é pintado, por norma de três cores à escolha, o branco deve estar sempre presente nos costados, na proa e na ré. Os barcos possuem símbolos relativos à companha a que pertencem.

Os remos são feitos de eucalipto e servem para equilibrar o barco quando as ondas são de maior dimensão. Servem, também, para substituir o motor quando falha. O remo tem 8,4 metros, tendo a pá menos de 20 centímetros.

Construído o barco-do-mar e antes de começar a operar era necessário proceder à sua bênção e para esse feito, e para além do Padre da freguesia que se deslocava à praia e dentro do barco fazia a pequena cerimónia religiosa da bênção, era escolhida uma jovem de famílias de pescadores como madrinha da embarcação.
  
O Pescado

              Ao longo da história da Arte-Xávega em Espinho e de entre as espécies mais capturadas destacam-se o carapau, a cavala e a sardinha. Antes da construção do Porto de Leixões, em finais do século XIX, para além da sardinha, que era abundante, também se pescavam corvinas, pescadas e robalos. Em período mais recente, espécies como o caranguejo, dourada, faneca, linguado, lula, raia, robalo, ruivo e biqueirão também fazem parte do leque do pescado que vem no arrasto das redes.

O carapau, de nome científico Trachurus trachurus é a designação vulgar de várias espécies de peixes das famílias Scombridae e Carangidae, caracterizados por um corpo fusiforme, uma linha lateral terminada por escamas em forma de escudo, e uma camada de músculo vermelho na parte lateral do corpo. São peixes pelágicos que formam por vezes grandes populações, com um grande valor nutritivo. Os adultos formam cardumes, que só se aproximam da costa na Primavera e no Verão para desovarem. Os mais pequenos, vulgarmente conhecidos por “jaquinzinhos”, abrigam-se entre os tentáculos das medusas. O trachurus, é o género que habita a costa portuguesa.

A cavala, Scomber japonicus, existe em grandes quantidades nas nossas águas, no entanto, só quando o tempo começa a aquecer e o mar se encontra mais calmo é que pode ser pescada. Passa a maior parte do Inverno no Mar do Norte, a consideráveis profundidades, período no qual não se alimenta. Com a Primavera chega o tempo da desova, que nas nossas águas é de Março a Abril. É no Verão que se fazem as grandes pescarias deste peixe. A cavala mede cerca de 85 cm de comprimento, cabeça e o dorso azulados, flancos com pequenas manchas e ventre esbranquiçado.

A sardinha, Sardina pilchardus, é um dos mais importantes recursos pesqueiros portugueses, tanto em termos económicos como sociais. Com uma vida curta (7/8 anos), tem um regime de exploração intenso. Apesar das flutuações anuais, a época de reprodução inicia-se no Outono (Setembro/Outubro) e termina na Primavera (Março/Abril). A safra realiza-se entre os meses de Maio a Setembro.

O comprimento da cabeça é sensivelmente idêntico à altura do corpo. A boca estende-se até cerca do terço anterior do globo ocular. Caracterizam-se por possuírem apenas uma barbatana dorsal sem espinhos, ausência de espinhos na barbatana anal barbatana caudal bifurcada e boca sem dentes e de maxila curta, com as escamas ventrais em forma de escudo. Cor azulada no dorso e prateada no ventre. Pode atingir cerca de 30 cm de comprimento. Pelágica, mantendo-se entre os 25 e os 30 m de profundidade durante o dia e entre os 15 m e os 35 m durante a noite.
Foi uma espécie essencial para o estabelecimento em Espinho da indústria conserveira em finais do século XIX. A Sardinha foi a “rainha” das conservas Brandão, Gomes & C.ª e contribuiu para o aumento e fixação do número de companhas nesta Costa, que forneciam diretamente a unidade fabril.

“Parte da pesca vai para a fábrica de conservas, e vemo-los ali a tirar as cabeças e a amanhar as sardinhas, cujos sangrentos despojos ficam na areia para as gaivotas, outra parte vai para a venda a retalho e uma parte maior em carros celtas para estrume dos campos.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)
  
A Mugiganga

Este tipo de pesca empregava menos meios e geria menores rendimentos, utilizando-se para o efeito pequenos barcos – as bateiras –, que se dedicavam à captura de outras espécies, como o camarão, fanecas pequenas, e o caranguejo, produto utilizado pelos lavradores como fertilizante (adubo) para as terras.

“Os caranguejos não têm outro destino. E aqueles mesmos boizinhos ruivos, de longa e aberta cornadura, que puxaram a rede, levam para os campos, nuns carrinhos do mais antigo tipo, nuns carrinhos celtas, de rodas maciças, fazendo uma só peça com o eixo, e com duas aberturas para os aliviar do peso, o estrume extraído do mar.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)

A pesca do caranguejo em pequenos cardumes, o tradicional “pilado” ou “mexoalho”, procurava libertar os bancos arenosos deste crustáceo que afugentava os cardumes de sardinha. Neste sistema de pesca era utilizada uma rede de arrasto de algodão (4 a 5 metros de altura e 15 a 20 metros de comprimento), de menores dimensões que a da arte-xávega, designada por “mugiganga”.

Esta rede era constituída por um saco de sete a nove metros de comprimento, com uma malha guarnecida por tralhas de cortiça e pandulhos. O saco de malha miúda (18 mm) composto por fisgas e ganchos, terminava no pau de calão, a partir do qual se fixavam os cabos de arrastar. Mais tarde, este tipo de aparelho utilizava bóias na parte superior e os “bolos”, pesos redondos e chatos, com dois furos, feitos de barro ou cimento, colocados na parte inferior da rede.

Chegados ao lugar do pescado, sondavam a “profundidade do mar e a natureza do solo com a sonda de mão constituída por um cordel, com a marca das braças, chamado fieira, que tinha preso na extremidade mergulhadora um quilo de chumbo em tronco de cone, côncavo na sua porção inferior, a que davam o nome de chumbeira. A concavidade era cheia com sebo duro, geralmente velas de sebo de Holanda.”

“A aderência de areia fina ou lodo ao sebo, indicava a possibilidade de existirem linguados, azevias, marmotas, alguns ruivos, chocos caranguejos, etc.; a aderência de areão e pequenos calhaus ou marcas das pedras, indicava a existência de fanecas, cação, etc. Reconhecida a existência de peixe num determinado lugar do fundo do mar, os pescadores fundeavam a bateira com um ferro chamado fateixa, preso a uma corda de espessura média.” (Agostinho Faria Isidoro – A Mugiganga. In “Os Sabeler – uma família de pescadores”. Porto: Instituto de Antropologia Dr. Mendes Correia, n.º 19, 1978.)

Era uma arte de arrastar pelo fundo e de alar para bordo à mão, de manuseamento complicado, exigindo uma tripulação composta por quatro a cinco homens das companhas, treinados para trabalhar com este tipo de aparelho. Os homens dirigiam-se para zonas pouco distantes da praia (sublitoral) e pescavam a uma profundidade reduzida. A expressão andar à barga era, em tempos mais recuados, utilizada para designar este sistema de pesca.
          Os atuais “caícos” a motor, pequenas embarcações mais recentes nas praias que praticam a arte-xávega, são utilizados na “mugiganga”, para a pesca de pequenas espécies como o camarão, a faneca e o robalo. No passado eram utilizadas as “bateiras”, embarcação de 5 a 7 metros de comprimento, de fundo chato e dois bicos. Possuíam um pequeno coberto para guardar roupa e pequenos objetos.

As Companhas

Durante muito tempo, a Arte-Xávega foi um agrupamento de pescadores sujeito a usos e costumes tradicionais sob a chefia de um governo ou patrão, dedicando-se à faina do mar, e que tomou, no decorrer do tempo, vários nomes: chinchorro, companhia, companha, e sociedade de pesca. Um processo de pesca artesanal que designava uma agremiação formada por sociedades com capitais coletivos ou individuais.
Numa companha tradicional os homens dividiam-se em dois grupos: os “homens do mar”, isto é, os remadores que conduziam o barco para o “largadouro” onde era lançada a rede; os “homens de terra” que se encarregavam dos “aparelhos”, isto é, das redes e das cordas. A tripulação de um barco do mar dependeu sempre diretamente da sua dimensão. Os de maior dimensão podiam albergar 60 homens, distribuídos por terra (24) e por mar (36). Com o passar dos anos este número foi diminuindo, e na atualidade uma companha é constituída por cerca de 8 a 12 homens.

À frente dos homens de mar está a figura do “Arrais de Mar” o mestre supremo de toda a companha. Comanda a navegação e dá ordem para o lançamento das redes. É o homem escolhido pela sociedade patronal para governar a companha; a figura do mestre a que todos obedecem e respeitam. Tem como seu “súbdito” o Arrais de Terra a quem transmite ordens. Hoje em dia tanto os homens que vão no barco como os que trabalham em terra são designados de pescadores, mas no passado as funções de cada homem de mar e de terra estavam bem delineadas como podemos verificar nos quadros seguintes. Em terra também se destacava a figura do redeiro, aquele pescador que detinha o saber da confeção das redes e do seu conserto.

HOMENS DE MAR
DESIGNAÇÃO
FUNÇÃO
Metedor
Remava no meio do remo
Caneiro
Remava na extremidade do remo
Calador
Lançava as redes ao mar
Reveseiro
Substituía os colegas
Espiador
Puxava as cordas dos cambões do remo
Camboeiro
Puxava a corda amarrada ao remo
Proeiro
Evitava que o barco ficasse atravessado
Maião
Remava no remo dianteiro
Requinteiro
Remava sentado nos extremos do bordo
Vareiro de Proa
Assegurava a entrada do barco de mar em segurança.
     

HOMENS DE TERRA
DESIGNAÇÃO
FUNÇÃO
Arrais de Terra
Coordenava a limpeza, cordas e a aparelhagem do barco
Redeiro
Confecionava e consertava a redes
Carpinteiro
Consertava as avarias do barco e remos
Colhedor
Colhia as cordas
Guarda
Zelava pelos apetrechos do barco
Gerente
Patrão da companha
Escrivão
Fazia a contabilidade da empresa
Calafate
Vedava o casco do barco
Amarrador
Amarrava o tramelho do gado
Guarda de noite
Guardava os apetrechos durante a noite
Chamador
Chamava os pescadores para a faina
Ajudante de arrais
Dava apoio ao arrais de terra
Vareiro de terra
Tratava dos bordões e do varal

              O “Chamador”, pelo uso de instrumentos de comunicação primitivos, era outra das figuras que se destacava dentro dos “homens de terra”. Primitivamente os sons emitidos por ele eram efetuados através de um búzio de mar ou de um corno de bovino. O instrumento acústico do “chamador” da companha exigia maior esforço no sopro, para que o som reproduzido fosse ouvido o mais distante possível.

Mais tarde, passou a estar acompanhado da sua “buzina” de chapa de flandres e de forma cónica. Era o primeiro homem da Companha a despertar. A sua principal tarefa consistia em avisar o arrais e todos os seus camaradas que o mar estava favorável para a faina. Uma vez concluída esta tarefa, dirigia-se para uma das dunas mais altas da praia, onde soprando o seu instrumento, avisava as gentes das freguesias rurais vizinhas, chamando assim, pescadores e homens do gado, para que estes se deslocassem para a praia e se desse início à faina. A buzina andava sempre presa às suas costas.

No decorrer do século XX surge o “pendão”, ou como pronunciavam os pescadores o “pandão”. Tratava-se de um aparelho constituído por uma vara de grandes dimensões, aprumada verticalmente, com uma rede envolvida por um arco de ferro cilíndrico (camaroeiro) suspenso por uma corda na extremidade mais alta da vara. Quando o mar estava de feição, o camaroeiro era içado para o alto, para que desta forma fosse avistado nas freguesias vizinhas pelos homens da faina.

A estrutura de uma sociedade de pesca não sofreu grandes alterações. A utilização de barcos com motor reduziu o número de homens de mar e homens de terra, mas e na sua essência, as funções atribuídas a cada pescador mantem a mesma operacionalidade do passado. Tomando como exemplo o rol de tripulação de uma Companha constatamos que a diferenciação entre homens de mar e homens de terra continua válida. O patrão (armador) e o arrais chefiam uma empresa que agrupa cerca de doze homens. Atualmente todas as embarcações de pesca em funcionamento entre Caminha e Espinho pertencem à capitania do Douro, tendo que ostentar no barco a palavra “Douro”.

De acordo com o Padre André Lima, a primeira companha que se estabeleceu em Espinho teria vindo do Furadouro, concelho de Ovar, e era designada por “Ala”. No entanto, não temos nenhuma documentação que nos permita datar esta empresa de pesca. Companhas com o nome de “Rei-ao-Mar”, “Trez Anjos”, “Sarampo”, “Cana Verde”, “Bexiga”, “Pucha Força”, “Velha” ou do “Senhor dos Aflitos”, “D’ Anta” e “Granja” também são mencionadas por André de Lima. Contudo, o documento mais antigo que conhecemos com referência à constituição de uma companha, está datado de 5 de Novembro de 1811, e trata-se da escritura de contrato e obrigação da companha São José de Riba-Mar, chefiada pelo arrais Bernardo de Pinho Branco. Era uma sociedade constituída por perto de cem pescadores, oriundos de Ovar, os quais, por motivos profissionais, fixaram residência na costa de Espinho. As companhas “Velha dos Mossos”, “Nova” e “do Arromba”, todas da freguesia de Anta e que pescavam na Costa de Espinho, estavam em funcionamento em 1826, como comprovam algumas fontes primárias sobre as normas de cumprimento da pesca de cerco e alar para terra. Até ao final da primeira metade do século XIX foram constituídas muitas companhas que davam trabalho a jovens pescadores, que assim e ao abrigo da lei de recrutamento militar tinham o privilégio da isenção do serviço militar obrigatório baseada nos argumentos das dificuldades e perigos que a faina da pesca acarretava. A nova lei de 27 de Julho de 1851 generalizou o dever do serviço militar acabando com esse privilégio, facto que contribuiu para a diminuição e a inscrição do número de companhas, causando também um impacto emocional muito forte junto das classes piscatórias e da sua relação com a coroa portuguesa.

“Noutro tempo, tiravam a rede à mão, e os que dos campos vinham para este dificílimo labor estavam isentos do serviço militar.” (Miguel de Unamuno, A Pesca de Espinho, Agosto de 1908.)

Ao longo de mais de dois séculos foram muitas as Companhas que trabalharam e extraíram peixe do mar de Espinho. A título de exemplo citamos algumas dessas sociedades de pesca. A maioria dos nomes estão relacionados com a devoção a vários Santos e Padroeiros para obtenção de proteção e segurança dos pescadores, suas famílias e embarcações.
Um dos exemplos mais emblemáticos de uma dessas sociedades de pesca, quer pela sua grandeza em termos de número de assalariados, quer pela quantidade de capitais que movimentava, foi a Sociedade de Pesca Costa Verde, Limitada, criada nos anos 50 do século XX, com sede na rua 14 n.º 673. Por escritura pública de 13 de Abril de 1959, foi admitido como novo sócio, Manuel Moreira dos Santos, subscrevendo uma quota de 10.000$00, elevando para 110.000$00 o capital da referida sociedade. No quadro seguinte fica o registo, ainda que incompleto, de algumas companhas que foram constituídas em Espinho ao longo de mais de dois séculos.
Nos anos 60 e inícios dos anos 70 do século XX, destacava-se a companha de Alberto de Bastos Maia, que ficou conhecido como o “Maia dos Camarões”. O negócio da preparação e da venda dos camarões começou com o seu pai que tinha um armazém na rua 2, entre as ruas 31 e 33. Posteriormente, Alberto Maia, continuou com o armazém de venda numa casa situada entre a Av. 8 e a Rua 4. Também o seu irmão Narciso Maia se dedicou a este comércio. Estamos a falar do famoso camarão da costa, que poderia ser apanhado na Aguda, em Matosinhos ou em outro local. O nome “camarão de Espinho” ficou a dever-se não ao local onde era pescado, mas sim ao método de preparação realizado pela família Maia, que o comercializava em todo o país. Ainda hoje de norte a sul de Portugal encontramos nos cardápios dos restaurantes o afamado “camarão de Espinho”.

COMPANHAS DE ARRASTO COSTEIRO EM ESPINHO
São José de Ribamar
Velha dos Mossos
Nova
Arromba
Ala
Rei-ao-Mar
Trez Anjos
Sarampo
Canna-Verde
Bexiga
Pucha Força
D´Anta
Granja/Moleiros/Almas
A Limonada
A Cachimbó
A Velha
Senhor dos Aflitos
Folha
Saragoça
Sabeler
Pereira
Vinhos
De Paramos
Benditas Almas
Santíssima Trindade
Nossa Senhora da Ajuda
S. Sebastião
Nossa Senhora de Fátima
Senhor dos Aflitos 2
S. Pedro
N. Sra. Rosário de Fátima
N. Senhora da Saúde
N. Senhora da Conceição
Nova Mirense
São Paio da Torreira
Pesca Susana
Pesca de Espinho
Senhora dos Aflitos Lda.
Do Morgado
Aluai
Maria
Do Jeremias
Santa Cecília
Senhora da Guia
Nossa Senhora do Mar
Costa Verde
D´Espinho Viva
Espinheira
São João
N. Senhora da Aparecida
Vicking e Vicking I
De Silvalde
Santa Catarina
Mar Salomão
Coração de Jesus e Maria
Dos Arruaça
Nova Companha do Sal
Nova de São Cristovão
Senhor de Matosinhos
Fé em Deus
N. Senhora da Boa Nova
São Torcato
Lobo do Mar
Santo António
Nelson e Sérgio
Vamos Andando
Mar de Esmoriz
Boa União
Rita Carolina

Nas memórias da pesca com arte-xávega em Espinho estão as figuras de alguns pescadores, que pela sua determinação, coragem e sabedoria foram honrados e humildes arrais: Afonso Arruda, Florêncio Brandão, Fernando Nogueira, Zé Barraca, Zé Torreco e Zé Nucha.

As companhas “A Velha” e “Senhor dos Aflitos”, tiveram como arrais António de Pinho Branco Miguel. O seu filho, também de nome, António de Pinho Branco Miguel (1855-1923) foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Espinho, instituída em 30 de Dezembro de 1890, depois da criação da Junta de Paróquia em 23 de Maio de 1889. A família já tinha tradições na gestão das companhas: o seu avô, Bernardo de Pinho Branco, foi arrais da Companha S. José de Riba-Mar, e tal como seu pai, começou a vida como arrais na companha a “Velha”. Pertenceu à comissão fabriqueira da nova Capela de Nossa Senhor da Ajuda, concluída no ano de 1883 e, também, à Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda (1885), da qual foi o primeiro juiz ou presidente. Já como presidente da Junta, foi um dos obreiros da construção do cemitério de Espinho e, em 1892, cedeu os terrenos para a construção do Bairro da Rainha. Após a conclusão do seu mandato, em 1896, como presidente da Junta de Freguesia de Espinho, continuou ligado a esta instituição como vogal, tesoureiro e vice-presidente, mantendo-se na Junta até 1918. Foi, também, um dos obreiros da construção da atual Igreja Matriz de Espinho.

Uma outra família de arrais muito conhecida pelas gentes vareiras foi a Sabeler, proprietária de uma antiga companha. De acordo com o antropologista Agostinho Farinha Isidoro, os “Sabeler”, são descendentes de um dos arrais que mais se distinguiu na pesca da sardinha em Espinho durante o século XIX – o Tio Zé Sabeler, designação como era conhecido. A alcunha “Sabeler”, deriva do facto de não ser analfabeto, como também o não foram os seus descendentes, facto que, à data”, era pouco vulgar entre pescadores e outras classes laboriosas. Durante longos anos, foi patrão da companha “Sabeler”. A destruição progressiva das casas dos pescadores provocada pelas invasões do mar e o rareamento da sardinha na costa de Espinho, levou ao êxodo de muitas famílias de pescadores. A dos “Sabeler” fixou-se na Afurada, vindo o velho Tio Zé Sabeler a morrer, em 16 de Junho de 1884, a bordo de um barco saveiro, quando entrava na barra do Douro. O seu filho mais velho, José Ferreira Neto, o “Sabeler”, também natural de Espinho, veio mais tarde a revolucionar toda a indústria de pesca em Matosinhos ao introduzir o sistema de pesca conhecido por “cerco americano”. Em Espinho, os sobrinhos de José Ferreira Neto, Amélio Ferreira Neto e Manuel Ferreira Neto, continuaram no governo da companha Sabeler.

Armando Bouçon